Um funcionário público molha os pés numa praia calma, tranquila e deserta, quando é surpreendido por uma velha mendiga cadavérica, desdentada e cheirando a álcool, que se apoderou de seus sapatos. À respeitosa cordialidade com que procura recuperar o bem, a velha retribui com indecifrável postura, que progride da obstinação rabugenta à sádica malvadez. À perplexidade do homem, ante o que atribui à crueldade gratuita de uma desconhecida, se opõe a determinação da velha em forçar uma “confissão sincera” de uma ofensa anterior.
Numa era orientada para a teatralidade, onde o jogo de fantasias mediáticas e as cores histriónicas com que se enfeitam banalidades quotidianas embaçam as fronteiras entre “verdade” e “mentira”, estará a razão de um dos lados, no meio ou em lugar nenhum?