Westdeutschezeitung

Texto e entrevista por: Elisabeth Gruen
12 maio de 2001

Quando é que começou a trabalhar com a marioneta no teatro?

Tendo começado a fazer teatro “convencional”, penso que a minha atração pelas marionetas foi no sentido de procurar um teatro “não naturalista”, uma linguagem que melhor pudesse refletir o mundo atual e o homem.

O que o fascina sobre a marioneta?

Fascina-me o complexo trabalho que é exigido ao ator quando trabalha com marionetas ou num mesmo plano teatral, sobretudo ao nível dos comportamentos corporais. Penso que é por este motivo que as nossas criações se aproximam de uma certa linguagem de dança contemporânea. Também me fascina a possibilidade numa dramaturgia de pesquisar novas fórmulas de teatro que assentem numa dramaturgia global (sem a tradicional primazia do texto no processo de criação), caracterizada pelas ideias, e pelas imagens e sons que elas têm o poder de despoletar.

Focou semelhanças/pontos de interceção entre o ser humano e o boneco: O Homem tem automaticamente “a atitude da marioneta” as marionetas parecem ter as características humanas. É esta a grande oportunidade da marioneta no teatro? O que o levou a optar por trabalhar com estas formas específicas da marioneta? É este “grotesco que o atrai?

Nas nossas propostas teatrais, tentamos, talvez intuitivamente, mecanizar os comportamentos dos atores de forma a encontrar registos “não-naturais” e humanizar as atitudes das marionetas, ao nível da enorme possibilidade que elas têm de expressar emoções. Daqui pode resultar um confronto poderoso que conduz o público a refletir sobre a “mecânica” das suas vidas; ou seja, sobre a sobrevivência dos seus sentimentos nos ambientes urbanos automatizados. Essa é também uma das nossas obcessões: retirar camadas de pele, à procura das nossas emoções primordiais.

4.Onde vê a grande oportunidade para a marioneta no futuro?

Considero que o teatro de marionetas, se liberto do peso da tradição, que ainda condiciona negativamente grande parte dos criadores, poderá constituir a mais importante linguagem de cena deste século, tirando partido do facto de o teatro convencional se manter ainda num certo limbo de arcaísmo. O teatro de marionetas, pela sua própria natureza “artificial” constitui uma fantástica plataforma de cruzamento das novas linguagens imagéticas, e uma possibilidade real do público reencontrar no teatro um espelho e um espaço de reflexão das suas vidas “reais”.