encenação
João Paulo Seara Cardoso
cenografia e marionetas
Rosa Ramos
textos
José Topa com colaboração de João Paulo Seara Cardoso, Luís Miguel Duarte e Mário Moutinho
música
João Loio
interpretação
Carlos Magalhães, João Paulo Seara Cardoso, Maria João Castro, Mário Moutinho, Rui Oliveira, Igor Gandra
orquestra conduzida pelo
Maestro Raul Santos Silva
iluminação
João Lorga
execução de figurinos
Aurora Nazareth
efeitos especiais
José Cunha
coordenação de produção
Mário Moutinho
apoio de produção
Jorge Neves, Metáfora
grafismo
Mar de ideias
oficina de Construção
Igor Gandra, Rui Oliveira, João Paulo Seara Cardoso, Susana Achando, Francisca Maia, Rosa Maria Pereira, Cristina Madureira, Maria João Castro, Hugo Valter Moutinho, Abílio Silva e Ana Queiroz
agradecimentos
Secretaria de Estado da Cultura, Câmara Municipal do Porto, Fundação Calouste Gulbenkian, Delegação Regional do Norte da SEC
patrocínios
Porto Editora, Vadeca, Luzeiro
Os Bonecos mais malcriados do mundo
Ao contrário do que acontecia com “Passa por mim no Rossio” (um mero show de variedades), “Vai no Batalha!” é um verdadeiro espetáculo de revista, com grande incidência na rábula crítica de ataques aos grandes problemas locais do Porto, sem deixar de referir temas da atualidade nacional.
O Teatro de Marionetas do Porto, na sua curta carreira (nasceu em 1988), trabalhou já com todo o género de bonecos, marionetas, fantoches e bonifrates; domina tão bem a matéria que poderia pôr as figurinhas de pau a fazer tudo, desde representar peças de Shakespeare ou tragédias gregas até executar acrobacias de circo. Ao escolher a revista, optou pelo mais difícil, porque a revista inclui todos os géneros de espetáculo e “Vai no Batalha!” tem mesmo de tudo: comédia, números musicais, fantasias, números alegóricos (como uma homenagem ao rio Douro, por exemplo, em que o rio é representado por uma figura alegórica – cabeça humana e corpo indefinido – que diz um poema de Carlos Tê). A eficácia dos manipuladores é tal que não se dá por eles, nem quando subvertem algumas regras e obrigam os bonecos a rastejar, a contorcer-se, a ganhar uma vida que ninguém suspeitava (como quando o busto de Chopin levanta voo da mesa de cabeceira e vai cair em cima da careca do secretário de Estado da Cultura).
Não faltam os números de fado e canção, habituais nas revistas do Parque Mayer. Não falta o corpo de baile, as “Sylicone Dancers”, adeptas do pername ao léu e do nu integral. As piadas com peixes (chaputas, linguados, etc.) e os números sobre os buracos das ruas da cidade do Porto falam, em boa medida, o mesmo discurso da revista lisboeta (mais concretamente a última, “Que tem Ecu tem medo”); mas “Vai no Batalha!” é , acima de tudo, a linguagem forte, com mais obscenidades por minuto do que todas as revistas do Parque Mayer tiveram nos últimos seis anos. E micromédias, como “Rosa e os Três”, tipo cegada, com cenas de sexo tão explícitas quanto podem vivê-las bonecos de pau, disso não há na capital.
Há, acima de tudo, um “compère”, aliás dois “compères” (evidentemente inspirados no mestre-sala dos Bonecos de Santo Aleixo), tanto mais interessantes quanto eles desapareceram da maior parte das revistas lisboetas atuais. Aliás, não há neste momento em Portugal qualquer revista em cartaz, a não ser “Vai no Batalha!”. Única, insubstituível e obrigatória, portanto. A coisa que, hoje em dia, no Porto, mais se parece com teatro (como diria António Pedro, se pudesse vê-la). Um acontecimento não só teatral, mas um verdadeiro acontecimento cultural. Com as letras todas.
Manuel João Gomes
in “Público”, 9 de julho de 1993
Revista à moda do Porto
Uma revista à portuguesa de marionetas é possivelmente uma originalidade. É certo que Vai no Batalha! Tem como referência os bonecos de Santo Aleixo, tanto no que se refere à estrutura revisteira de alguns atos das marionetas alentejanas como à própria conceção e manipulação dos bonecos.
Não é essa originalidade, contudo, que torna este espetáculo único. É aquilo que não pertence ao domínio dos bonecos, que funciona sempre com qualquer género. Refiro-me ao talento, À graça, à inventividade, à carga crítica.
A linguagem muitas vezes vicentina, a tipicidade de algumas figuras (espantoso Fredo Brilhantinas, espantosa vendedeira do Bolhão), a sátira que fazia empalidecer Passa por mim no Rossio, a eficácia da manipulação, o jogo vocal, a composição das personagens, a força das caricaturas, o ritmo da representação, a excelente música de João Loio, o espaço adequado do teatrinho de Belomonte, todos estes elementos se conjugam para fazer deste espetáculo uma criação irresistível e inesquecível.
O grupo Teatro de Marionetas do Porto com uma colaboradora excecional: Rosa Ramos de quem os bonecos e os cenários constituem formas de uma grande criatividade. O talento de João Paulo Seara Cardoso, com José Topa para os textos, além de Carlos Tê, entre outros, explica a qualidade deste espetáculo que apetece voltar a ver.
Vai no Batalha! «revista e aumentada», um grande espetáculo que não por acaso é uma revista e é um espetáculo de marionetas.
Carlos Porto
in “Jornal de Letras”, 6 de julho de 1993
Vai no Batalha!
a partir de vários autores no Porto
Uma revista à portuguesa pelo Teatro de Marionetas do Porto –ou de como, miniaturizando todas as dimensões do teatro e criando personagens com bonecos, se pode construir um espetáculo inteligente, divertido, com personagens e tipos que nos remetem para a realidade nacional imediata, criticam e distraem, como é função da revista. A partir dos textos de José Topa, J.P. Seara Cardoso, Luís M. Duarte, Mário Moutinho e Carlos Tê, da música de João Loio e dos irresistíveis cenários de Rosa Ramos, desfilam por nós momentos do maior prazer revisteiro e teatral.
De entre um conjunto de quadros de grande qualidade, é quase impossível não destacar «Os Sonhos do Senhor Lopes», em que o SEC de todos nós, depois de visitado pelo busto de Chopin, combina com Filipe La Féria uma nova estratégia para dar a ver teatro (um tanto compulsivamente é certo) a dez milhões de portugueses, a «Inauguração do Buraco» pelo presidente de Câmara do Porto, orifício aliás batizado imediatamente com o nome de Buraco da Silva e pretexto para uma hilariante intervenção da digna autoridade, o «Fado da Noite», excelente evocação do número do bêbado e do candeeiro (e um dos mais belos cenários da peça), ou ainda «A Rosa e os Três», número característico de toda uma tradição cómica (a criada e os amantes) e homenagem ao teatro de… Robertos!
Num momento em que o futebol é capaz de mobilizar e quase fazer paralisar uma cidade, criando momentos de assustadora demência coletiva, o espetáculo das Marionetas do Porto surge como um oásis de delicadeza e bom gosto duplamente significante.
João Carneiro
in “Expresso”, 12 de junho de 1993