Crescerá e minguará
A lua
E depois uma criança nascerá
A força do gigante
E a bravura do leão
Ela terá
E ainda que não seja
Maior do que o polegar
Dela se falará
Até ao fim dos tempos
João Paulo Seara Cardoso
marionetas, figurinos e ilustrações
Júlio Vanzeler
música
Roberto Neulichedl
desenho de luz
Jorge Costa
produção
Sofia Carvalho
interpretação
Edgard Fernandes, Sara Henriques, Sérgio Rolo, Shirley Resende (pianista)
operação de som e luz
Rui Pedro Rodrigues
pintura de marionetas
Emília Sousa
assistente de produção
Paula Anabela Silva
técnicos de construção
Vitor Silva – coordenação
Filipe Garcia, Tânia Pinheiro – estagiária
construção de cenografia
Américo Castanheira, Tudo Faço
coordenação de guarda-roupa
Cláudia Ribeiro
assistente de guarda-roupa
Catarina Barros
mestre costureira
Celeste Marinha
aderecista
Dora Pereira
apoio
Balleteatro Auditório
dimensões: boca de cena – 10 m
profundidade – 8 m; altura – 5 m
panejamento negro
chão: linóleo preto ou madeira
pernas laterais e cortinas
luz
mesa de luz ETC 24/48 (equipamento da companhia)
protocolo de ligação: DMX 512
no local
dimmers (36 canais) e cabos de ligação
projetores
som
amplificação, mesa de mistura e colunas
equipamento da companhia: 1 microfone fixo
2 microfones emissores: 1 processador de efeitos
vídeo
equipamento da companhia: projetor de vídeo; leitor mini-DV; mesa de mistura
montagem
staff necessário
1 técnico de palco
1 técnico de som
1 técnico de luz
tempo de montagem cenário
2h00
tempo de montagem de luz, som, vídeo e panejamento (estimativa variável em função das técnicas e do pessoal de montagem)
12h00
apoio
camarim coletivo ou camarins individuais para 4 pessoas
importante: o acompanhamento musical do espetáculo é efetuado ao vivo, em piano
necessário no palco: 1 piano vertical de boa qualidade e afinado
a companhia é formada por
3 atores, 1 músico e 1 técnico/operador de luz
duração do espetáculo: 50 minutos
classificação etária: maiores de 4 anos
menções obrigatórias em todo o material promocional do espetáculo:
Estrutura financiada por SEC/DGArtes (com inserção de logótipos)
Teatro: O triunfo dos mais pequenos
O palco é inclinado, mas não há “escorregadelas”. A História vai do princípio ao fim sem um momento de dispersão, numa atmosfera de conto infantil, daqueles pequenos e universais, que já nascem preparados para resistir ao tempo. Como o protagonista, de resto, uma personagem minúscula que leva de vencida um gigante. Qual David contra Golias, Polegarzinho simboliza as dificuldades de relacionamento dos mais novos com um mundo enorme e adverso, e é por isso que de imediato conquista a plateia, maioritariamente constituída por público infantil. Por isso e porque o Teatro de Marionetas do Porto, mais uma vez, constroí um objeto cénico que alia a economia narrativa a um universo visual encantatório.
Ao escrever o texto, que hoje mesmo, data da estreia, é editado em livro pela Campo das Letras, João Paulo Seara Cardoso, diretor arstístico da companhia e encenador do espetáculo, inspirou-se livremente nas vendas clássicas – Joseph Jacobs, Pernault, Grim e Andersen – e noutras que, entretanto, foram surgindo aculturizadas em diversos países, pela mão de escritores como Tom Thumb (Inglaterra), Tom Poucet (França) e João Polegar (Portugal). “Preocupei-me em focar aspetos da história do Polegarzinho que se adaptassem às nossas necessidades cénicas. Escrevi um texto de grande síntese, com o mínimo de palavras e floreados”, conta. Atualizar a narrativa original não foi um propósito nuclear de Seara Cardoso, para quem “uma das características destas histórias infantis do maravilhoso é serem símbolos intemporais das questões do desenvolvimento da criança”.
Imaginado exclusivamente para um público infantil, o espetáculo que hoje estreia no Balleteatro Auditório pode, em todo o caso, ser visto com agrado por adultos: “A fraqueza perante a imensidão do mundo é uma situação-arquétipo que encaixa tanto nuns como noutros. O polegarzinho conseguir vencer o gigante é uma catarse também para os adultos. E o mais interessante disto tudo está, justamente, em ver famílias a partilhar o prazer do teatro”.
De um lado do palco, há um ecrã onde vão sendo projetadas as ilustrações de Júlio Vanzeler (também autor das marionetas e dos figurinos), a uma cadência semelhante à do virar de página na leitura de um conto infantil; do outro, a pianista Shirley Resende toca a música composta por Roberto Neulichedl; ao centro, os atores (Edgard Fernandes, Marta Nunes e Sérgio Rolo) representam enquanto manipulam as marionetas.
No fim, para que uma eventual reação de medo das crianças face à figura do gigante não subsista depois da peça, pergunta-se-lhes o que lhe aconteceu. Elas respondem, seguras. E vão para casa radiantes.
Marcos Cruz
in “Diário de Notícias”, 25 de maio 2002
Na ponta do dedo
Uma estreia do Teatro de Marionetas do Porto é sempre uma boa notícia! E estreou ontem a peça Polegarzinho, destinada a um a público mais jovem mas sem limites de idade. E se o TMP não é, desde o seu início nos idos de 1988, um grupo especialmente vocacionado para o público infantojuvenil, não deixa desde sempre de ter uma reserva de encantamento e diversão para os mais pequeninos. Que o diga o seu mentor, reponsável pela maior parte da encenação e dramaturgia do TMP, João Paulo Seara Cardoso: “ Ao querer abordar um conto de fadas, que desde sempre me interessaram, voltei a reler os contos tradicionais e as dos clássicos que os reescreveram, desde o século XVI, o Perrault, os irmãos Grimm, o Hans Christian Andersen. E a escolha não foi imediata, porque eu acho todas as histórias fantásticas. Mas o Polegarzinho sempre me impressionou desde pequenino, e servia melhor os propósitos de encenação que queria fazer”.
E o que preside a este espetáculo para o público mais novo? Contra a tendência atual muito imbuída de preocupações pedagógicas (não de hoje mas desde que as preocupações pedagógicas suavizaram os horrores dos contos tradicionais inventando a literatura infantil – mais acentuado com o universo Disney), o encenador procurou o poder de maravilhar e apaziguar que têm os contos de fadas. A história do menino muito desejado que nasce do tamanho de um dedo polegar “tem situações muito variadas e adapta-se muito bem à marioneta, no fundo ele é já uma marioneta”. Logo desde a primeira cena ( “quando Polegarzinho cai dentro da tigela do bolo que a mãe estava a fazer, e ela pensa que a massa está enfeitiçada e deita-o fora pela janela e…”) se precipita a história do menino Polegar como se fosse uma lenga-lenga: “Fui buscar os episódios mais curiosos às diferentes versões da história, numa sucessão de peripécias até chegar ao castelo do Rei, onde começa a segunda parte, a mais importante e perigosa, quando tem de enfrentar o Gigante”, a ameaça terrífica dos contos de fadas.
Para a construção do espetáculo o encenador centrou-se na questão das escalas, tão bem representada com este herói minúsculo “que pode levar as crianças a identificarem-se: existem três escalas, a do Polegarzinho, a dos atores (desde sempre nos interessa a situação dos atores à vista que manipulam e contracenam com as marionetas) e a do Gigante. No fundo a primeira dificuldade de relacionamento das crianças com o mundo é essa questão das escalas”. E se, ao montar esta peça, partiu inicialmente das memórias afetivas da infância, como a função da arte é “apaziguar”, reconciliar com o mundo, o encenador espera que o público que assiste a esta peça saia da sala com uma espécie de reconforto, “mesmo se sentiu medo ou até terror lá dentro”. E o sentido da peça é: “O mundo é muito maior que eu, as coisas são grandes e perigosas, mas se eu, pequenino, usar tudo o que tenho de bom, a coragem, a inteligência, posso vencer as dificuldades”.
Para criar esta unidade no espetáculo o TMP conta com a sua equipa habitual: a qualidade gráfica das marionetas, figurinos e ilustrações de Júlio Vanzeler, “que desta vez contribuiu decisivamente para o desenrolar da peça, que se desenrola como um livro com ilustrações”, com quadros fixos – e deu origem ao livro da Campo das Letras editado ontem a partir deste trabalho. Ainda a música de Roberto Neulichedl interpretada ao vivo por Shirley Resende, o desenho de luz de Jorge Costa e a interpretação de Edgard Fernandes, Marta Nunes e Sérgio Rolo.
Agarre no pequeno mais perto de si e leve-o como desculpa para entrar no território dos contos de fadas…
in “Notícias Magazine”, 26 de maio de 2002