Jasão embarca na nau Argos com destino à ilha de Colcos, com o objetivo de conquistar o velo de ouro. Ao chegar à ilha, desperta duas paixões: na filha e na sobrinha do rei de Colcos, respetivamente, a princesa Medeia e Creusa. Cega pela paixão, Medeia ajuda-o a concretizar o seu objetivo, a apoderar-se do velo de ouro. Mas Jasão, ao ver-se em poder do tesouro, acaba por fugir com a sobrinha do rei, Creusa. Sentindo-se traída, Medeia move contra os amantes uma tempestade que os obriga a regressar a Colcos. O rei, ofendido por Medeia o ter roubado, casa Jasão com Creusa e dá-lhe a direção do reino. Medeia, desesperada, foge e desaparece pelos ares.
Há na glória padecer,
Reflexões sobra a vida e obra de António José da Silva, O Judeu
Por João Paulo Seara Cardoso
João Paulo Seara Cardoso
marionetas, figurinos e ilustrações
Júlio Vanzeler
música
Roberto Neulichedl
desenho de luz
Jorge Costa
produção
Sofia Carvalho
interpretação
Edgard Fernandes, João Paulo Seara Cardoso, Sara Henriques, Sérgio Rolo, Tânia Gonçalves
atores/contrarregra
Pedro Ribeiro, Sónia Sousa
pianista
Shirley Resende
técnico de som e luz
Rui Pedro Rodrigues
pintura de marionetas
Emília Sousa
assistente de produção
Pedro Miguel Castro
assistente de encenação
Pedro Ribeiro
preparação vocal
Ana Barros
técnicos de construção
Filipe Garcia, Jane Saks, Rui Pedro Rodrigues, Vitor Silva
construção de cenografia
Américo Castanheira, Tudo Faço
confeção de figurinos (marionetas)
Bianca Bast
confeção de figurinos (atores) e adereços de guarda-roupa
Cláudia Ribeiro – coordenação
Isabel Pereira – aderecista
Teresa Batista – assistente de aderecista
La Sallete Oliveira – costureira
assistente de guarda-roupa
Catarina Barros
coprodução
Teatro de Marionetas do Porto / Teatro Nacional de S. João
dimensões mínimas: largura – 10 m/ profundidade – 8 m/ altura – 5 m
luz
Dimmers digitais- 68 circuitos de 2kw cada, protocolo DMX 512
As varas irão ser colocadas a aproximadamente 6 metros de altura.
A programação de luz está gravada em disquete para mesa ETC
Mesa de luz ETC Express 24/48 (nosso equipamento)
Planta de luz (ver anexo)
projetores
19 Projetores de recorte 23-50, 1kw, tipo ETC Source Four Júnior
19 Projetores PC 1kw, tipo Cantata
15 Projetores Par64 c/ lâmpada cp60 (8 dos quais com base)
vídeo
Projetor de vídeo (mín.2500 ansilumens) suspenso em vara de luz no fundo do palco, para retroprojeção em cortina branca (que faz parte do cenário);
Leitor DVD (nosso equipamento);
Cabo de sinal S-video.
som
A música é executada ao vivo num teclado midi ligado ao cpu (nosso equipamento).
Sistema de amplificação stereo com monição de palco.
O PA para som de sala deve ser colocado na parte de trás do cenário, voltado para o público, e as duas colunas de monição para os atores, colocadas à frente do palco e voltadas para o fundo de cena
Mesa de mistura, mínimo 12 canais
3 microfones emissores de lapela
processador de efeitos (reverb)
compressor
outros equipamentos
Máquina de fumos
montagem
16h00
Tempo de montagem de luz, som, vídeo e panejamento
(para realização de um espetáculo à noite, a montagem deve ser iniciada na manhã do dia anterior)
staff necessário
Apoio técnico – 1 técnico de som; 3 técnicos de luz; 1 técnico de video; 1 maquinista
Carga e descarga – 4 pessoas
A companhia é formada por: 8 atores e 1 coordenador técnico/operador de som e luz
apoio
Camarim coletivo ou camarins individuais para 8 pessoas
Sala de ensaios disponível durante o tempo de montagem
notas: neste espetáculo são usados sistemas de pirotecnia certificados para espaços interiores
duração do espetáculo: 100m
classificação etária: maiores de 12 anos
menções obrigatórias em todo o material promocional do espetáculo:
Estrutura financiada por SEC/DGArtes (com inserção de logótipos)
Deveras… veras, reveras e tataraveras
Entrevista de Margarida Reis (MR) (Jornal do Teatro D. Maria II) a João Paulo Seara Cardoso (JPSC) a propósito da apresentação da peça Os encantos de Medeia.
Ler EntrevistaA magia de Medeia no palco do S. João
Os Encantos de Medeia estreia-se hoje no Teatro Nacional de S. João para assinalar o tricentenário do nascimento de António José da Silva
“O amor permanece igual. Há 300 anos amar-se-ia da mesma maneira que hoje: amores desencontrados, amores de velhos, amores de novos, amores utópicos e amores carnais.” O traço da atualidade é dado por João Paulo Seara Cardoso , encenador de Os Encantos de Medeia, a peça que hoje se estreia no Teatro Nacional de S. João, no Porto. Mas é também o encenador que avisa: “Não devem procurar-se sinais de correspondência com o presente” no texto que decidiu levar ao palco.
O melhor será então abdicar dos rótulos para falar da peça que pretende assinalar o tricentenário do nascimento do dramaturgo António José da Silva (1707-1739), O Judeu, como ficou conhecido, numa coprodução do Teatro Nacional de S. João e do Teatro de Marionetas do Porto. Ainda o encenador a hesitar na classificação: “Não é uma peça para crianças, apesar da sua espetacularidade cénica, mas também pode ser vista por crianças, assim como pelos adultos”.
Os Encantos de Medeia vai beber inspiração aos mitos da Grécia antiga, misturando uma linguagem erudita com tiradas mais brejeiras, postas na boca dos criados. “A peça era intelectualmente exigente mas mantinha uma ligação às classes populares, através do linguarejar dos criados. Estamos a falar de uma peça escrita por um intelectualzinho de Lisboa, muito culto e quase advogado, que fazia peças para marionetas que apresentava depois no Bairro Alto. Os manuscritos originais mostram todo esse humor popular que depois era corado na edição”, contextualiza João Paulo Será Cardoso.
Dezasseis anos depois de Esopaida ou a Vida de Esopo, o encenador regressa agora a uma peça de António José da Silva – considerado o mais representativo comediógrafo do séc XVIII português – procurando manter-se o mais fiel possível ao espírito da época em que foi escrita.
Há personagens mitológicas que descem ao palco, dragões e ninfas que irrompem pelo chão, combates entre exércitos adversários que são empurrados através de corrediços e telões. “Procuro respeitar a espetacularidade do texto e as indicações de cena dadas pelo autor e surpreender o público a cada passo do espetáculo”, relata Seara Cardoso.
Atores também cantam
O encenador, que também surge no palco manietando o criado Sacatrapo, optou pela manipulação das marionetas à vista e por pôr os atores a cantar as 18 árias da peça. “Deste modo, não temos que interromper a ação”, sustente. O resultado é uma hora e meia de espetáculo ritmado, em que “o palco parece que está vivo”, para utilizar a expressão de Seara Cardoso. O compromisso com a magia do próprio texto faz-se assim com o auxílio de maquinaria diversa que permite malabarismos técnicos como o voo da cabeça de Sacatrapo, a exuberância de um dragão lançando fogo e o aparecimento de nuvens, árvores, trovões e montes.
As marionetas , por opção de Júlio Vanzeler , aparecem sem cabelo. Uma opção estética que, no caso de Medeia, serve para acentuar o seu carácter trágico, sem, todavia, negligenciar a vertente cómica das personagens. Nem tragédia nem comédia, suscetível de vários níveis de leitura consoante a idade do espectador, Os Encantos de Medeia encaixa bem numa programação que se quer adequada ao Natal.
Natália Faria
in “Público”, 3 dezembro de 2005
Do rapto no S. Carlos à Ópera na Culturgest
Sol e Sombra
…
20 de dezembro – Porto-Medeia. Os Encantos de Medeia de António José da Silva , dito O Judeu, é uma das peças mais intrincadas do autor, o grande cómico das situações e da língua portuguesa, a quem esperava a tragédia: o jovem advogado denunciado com judaizante, passou pelo fogo e terror da inquisição – o fogo que calou o resto da sua hipotética criação para um grande teatro português que assim ficou virtual.
O espetáculo de bonecos e atores, dirigido por João Paulo Seara Cardoso, não o último de qualidade, feito nas últimas décadas, é magistral e antológico. O texto dado a ver a toda a largura épica da boca de cena do Teatro São João, sim, dado a ver mas também a ouvir, cheio de achados para não repousarmos, variando-os até demais, para poder encontrar as soluções dramáticas: porém, sempre de grande cultura teatral e de sensibilidade relativa ao texto, inclusive nos cortes provavelmente hoje necessários. Pecados? Poucos. Possivelmente o ritmo faz crescer certa entropia que as poucas canções da “ópera” tentam amenizar com êxito.
Jorge Listopad
in “Jornal das Letras”, 4 de janeiro de 2006
Encantos de Amor e Ambição
Para João Paulo Seara Cardoso, do Teatro de Marionetas do Porto, a verdadeira estreia de «Os Encantos de Medeia», de António José da Silva acontece hoje no TNSJ. A peça surge no ano em que se assinala o tricentenário do nascimento do comediógrafo do século XVIII.
O palco do Teatro Nacional S. João é a partir de hoje ocupado pelas personagens da peça «Os Encantos de Medeia», de António José da Silva (O Judeu). Uma coprodução do Teatro Marionetas do Porto e TNSJ cuja encenação e cenografia é de João Paulo Seara Cardoso. Na sala nacional é reproduzido o espírito de uma peça muito típica do Teatro Barroco, com telões que correm na horizontal, mudanças de cenas muito rápidas, dragões, trovões, sereias, alçapões, ? porque este tipo de teatro procura a espetacularidade para surpreender o público a cada passo? , explica João Paulo Seara Cardoso. «Os Encantos de Medeia» chega no fim do ano em que se comemora o tricentenário do nascimento de António José Da Silva, ? um grande dramaturgo que Portugal teve depois de Gil Vicente e antes de Almeida Garrett? , sublinha. Uma chegada que, segundo o encenador, parte da vontade manifestada por Ricardo Pais para o ? espírito natalício que o TNSJ queria imprimir ao mês de dezembro? . Mesmo não sendo um espetáculo para crianças, o facto de transformar um dos célebres mitos trágicos numa comédia acaba por afastar-se do teatro que é produzido atualmente, e que Seara Cardoso também integra, carregado de reflexões sobre as condições de vida e das sociedades contemporâneas. Confessa que há muitos anos não fazia uma comédia e sendo esta peça não muito séria acaba por associar-se um bom espírito. Apesar de considerar que uma boa dramaturgia é sempre atual, o encenador afirma que não é possível encontrar um paralelo com o presente relativamente a sinais de correspondência no tempo. O que se encontra é sim o espírito inovador de António José da Silva, que há 300 anos percebeu que ? chegava a Portugal a moda da ópera que era só para as classes aristocráticas, e uma fórmula de teatro popular que associasse o espírito da comédia antiga com a nova ópera introduzindo árias e canções pelo meio? , explica. Atores, manipuladores e cantores. É esta fórmula que o Teatro de Marionetas do Porto traz ao palco, num contraponto com as representações originais feitas na época, no Teatro do Bairro Alto, em que do ponto de vista técnico e do elenco, os manipuladores estavam escondidos e haveria cantores e uma orquestra. Depois de compreender toda esta mecânica das peças escritas para marionetas de António José da Silva, na perspetiva teatral de Seara Cardoso, os atores assumem em simultâneo o papel de cantores, com a manipulação das marionetas ao vivo, principal característica do teatro que realizam. ? Só me interessa fazer teatro de marionetas assim, quando há o confronto do ator com a marioneta, mesmo numa abordagem mais clássica como esta? . Argumento Tudo começa quando Jason embarca na nau Argos para a ilha de Colcos à conquista do velocino de ouro. Chegado, a princesa Medeia, filha do rei, e Creusa, sobrinha do mesmo, apaixonam-se por ele. Medeia ajuda Jason a furtar o velocino de ouro, mas este foge com Creusa, a verdadeira paixão. Repudiada, Medeia move contra eles uma tempestade, obrigando-os a regressar a Colcos, onde o rei, ofendido por Medeia o ter roubado, casa Jason com Creusa e dá-lhe o reino. Medeia, desesperada, desaparece pelos ares.
Goreti Teixeira
in “O Primeiro de Janeiro”, 3 de dezembro de 2005
Trapaceiro da Verdade
“Às vezes Cupido, pode mais do que Marte” uma história de amor de ricos e de pobres, de interesseiros e “peitos nobres”, em versão comédia, sobe hoje, ao Teatro Nacional de S. João, no Porto, às 21.30 horas.
No ano em que se comemora o tricentenário do nascimento de António José da Silva (o Judeu), o Teatro de Marionetas do Porto leva à cena a peça “Os Encantos de Medeia”, da autoria do dramaturgo português.
A narrativa segue os trâmites do teatro barroco, inspirado na comédia dell’arte e nos comediantes espanhóis do séc. XVI. Como personagem central temos “Sacatrapo”, que bem poderia ser um “Arlequim” ou um “Sancho Pança”: é o arisco criado, o mais lúcido de todos os personagens, cuja capacidade de solucionar problemas e também de tropeçar neles é o detonante de toda a narrativa.
O seu amo deambula entre um amor por “Medeia”, que tem imensos tesouros, poderes sobrenaturais e uma criada atenta; e “Creuza”, prima de “Medeia” e o seu amor verdadeiro.
Os textos são os originais de 1735, sem a versão censurada, como explicou João Paulo Seara Cardoso, encenador: “Na altura eram incluídas muitas piadas obscenas, que na edição eram cortadas; na peça decidimos incluí-las”.
A cenografia é louvável, imitando, como explicou o mesmo responsável, “o que António José da Silva faria no seu teatro no Bairro Alto em 1735”. Para este exercício de fidelidade foi criada uma caixa de palco, com alçapões, de onde podem sair dragões flamejantes, telões que escondem maquinaria que dá a soberbia a Medeia e corrediços onde entram e saem cenários que dividem as cenas deste argumento.
Ainda que o teatro seja de marionetas elas dividem o cenário com os atores, como vem sendo hábito nesta companhia. Além de conferirem animosidade e voz aos bonecos, os atores interpretam canções que enfatizam cada uma das cenas-chave, acompanhados ao piano por Shirley Resende. Os sons, sejam de cavalos ou de raios, são todos feitos em palco com objetos rudimentares, conferindo à peça um carácter deliciosamente “naif”. Para ver até dia 23.
Catarina Ferreira
in “Jornal de Notícias”, 3 de dezembro de 2005
Histórias Fantásticas
…
Outro é o caso do excelente Os Encantos de Medeia, de António José da Silva, na versão de João Paulo Seara Cardoso para o Teatro de Marionetas do Porto. O espetáculo foi estreado no Teatro S. João, do Porto, em 2005, e está agora no D. Maria II, de Lisboa. O texto original toma liberdades relativamente à história canónica de Medeia, transformando a tragédia em comédia, pondo Jasão a casar com Creusa, prima de Medeia, sem grandes estragos, a não ser o desaparecimento da feiticeira no ar, por puro despeito (ou desgosto…). Não há filhos, muito menos infanticídio. João Paulo Seara Cardoso reduziu o texto original, com enorme felicidade, e concebeu um espetáculo de uma simplicidade aparente que revela, efetivamente, uma invulgar sabedoria. O bom gosto de figurinos, cenários e luzes é irrepreensível, e irrepreensível é também todo o trabalho de manipulação das marionetas. Se, inicialmente, o trabalho vocal parece menos cuidado, essa impressão acaba por se desvanecer perante a qualidade global do espetáculo, e perante o trabalho musical que vai da composição (Roberto Neulichedl) à interpretação dos atores-cantores e da pianista Shirley Resende.
João Carneiro
in “Expresso Cartaz”, 23 de setembro 2006
Com o Judeu
O “Teatro Nacional D. Maria II” começou, a nova temporada, com um Ciclo António José da Silva “o Judeu”. Iniciou-se, o mesmo, com a presença do “Teatro de Marionetas do Porto” apresentando “Os Encantos de Medeia” (aliás, o autor escreveu esta “ópera”- como então se designava, este tipo de obra, por influência italiana – para os bonifrates do “Teatro do Bairro Alto”, em 1735). Este texto de António José da Silva (1705-1739) foi encenado, por João Paulo Seara Cardoso, com a sua estrutura da época, muito Ibérica (recuperando, um tanto, o barroco), mais narrativa do que dramática, inspirando-se no Teatro grego clássico, com enlaces entre o real e o sobrenatural e onde o cómico e o trágico convivem.
João Paulo Seara Cardoso ergueu um bom espetáculo, divertido, bem ritmado, com acertados apoios de luz e de som, exuberante do ponto de vista visual e onde a manipulação das marionetas é executada, à vista dos espectadores, pelos marionetistas, que são, simultaneamente, atores que cantam bem (Edgard Fernandes, João Paulo Seara Cardoso, Sara Henriques, Sérgio Rolo e Tânia Gonçalves).
A magia e a ilusão residem na cenografia inventada pelo encenador. As marionetas e os figurinos surgem com a assinatura de Júlio Vanzeler. A música é de Roberto Neulichedl e o desenho de luz de Jorge Costa.
O “Teatro de Marionetas do Porto” continua em boa forma e com programação variada (ainda há pouco tempo o víramos, no “Festival de Almada”, entregue a Beckett).
Fernando Midões
in “Notícias da Amadora”, 21 de setembro 2006
Pour synthétiser les lignes de force de son travail sur les opéras pour marionnettes, João Paulo Seara Cardoso, directeur de la compagnie Teatro de Marionetas do Porto, a employé deux termes antagoniques et complémentaire: « archéologie » et « invention ». Il a effectué sa première incursion dans le théatre en 1989 avec La Vie d’Ésope, présentée à Charleville-Mézières à l´’occasion des rencontres « Musique en mouvement » (voir Puck, nº 6, 1993). Cet opéra a été traité d’une manière « orthodoxe » selon Seara Cardoso, mais son texte était réduit à l’essentiel de l’action, les manipulateurs n’étaient que trois acteurs-chanteurs qui, avec un seul musicien, étaient visibles sur la scène. En 2005, c’est le tour d’Os Encantos de Medeia (Les Enchantements de Médée), dont Seara Cardoso adapte à nouveau le texte original, considéré comme peu accessible aujourd’hui, mais en conservant tous les arias. Le spectacle de quatre heures est réduit de moitié et, recentré sur l’action, devient surtout une oeuvre musicale.
Interrogé sur les raisons qui l’ont incité à choisir ce type de répertoire, qui est une exception dans son parcous artistique peu enclin à une dramaturgie obéissant à des contraintes dramaturgiques imposées par un texte écrit au préalable, Seara Cardoso répond qu’il « s’est toujours senti attiré par l’inclusion de la musique dans le théâtre », d’où son intérêt pour cette oeuvre musicale jouée dès l’origine à l’aide de marionnettes.
Étant donné l’absence quasi totale de données sur les marionnettes de l’époque da Silva, quelle importance avez-vous accordé au travail archéologique sur ce point particulier?
Il est presque certain que tout le répertoire des pièces d’Antonia José da Silva jouées entre 1733 et 1739, qui nse trouvait au Teatro do Bairro Alto, a été détruit au moment du tremblement de terre qui a dévasté Lisbonne en 1755. Dans cette mesure, il ne subsiste aucun objet qui nous permette de reconstituer de façon rigoureuses les accessoires et équipements scéniques qu’on utilisait au Bairro Alto. Toutefois, il est possible d’aboutir à quelques conclusions, et c’est ce que j’ai tenté de faire, soit à partir d’indications donées par l’auteur lui-même, soit par analogie avec les marionnettes à tringle italiennes qui ont inspiré la conception scénique des opéras présentés par « le Juif ». Les marionnettes de cette époque étaient à tringle et devaient mesurer environ 50 centimètres de haut, ce qui est adapté à une scène de deux mètres d’ouverture environ. L’auteur lui-même, dans l’une de ses allusions coutumières à la condition « matérielle » des marionnettes, indique les matériaux dont elles étaient faites: « âme en fil de fer dans un corps en liège » – naturellement les têtes, ainsi que les mains et les pieds devaient être sculptés dans du bois.
Quel est le type des marionnettes, en termes esthétiques, que vous avez choisies pour le spectacle conçu à partir de l’opéra Os Encantos de Medeia?
Le schéma directeur de notre mise en scène introduit un changement d’échelles par rapport à ce qu’ont pu être les mises en scène originelles, au Bairro Alto. La scène a neuf mètres d’ouverture, ce qui permet au public de voir les acteurs, bien qu’ils soient presque toujours modulés par l’éclairage. C’est pourquoi les marionnettes ont environ un mètre de haut pour rester visibles à cette nouvelle échelle scénique et conserver avec le corps de l’acteur une realtion harmonieuse.
Comment avez-vous réalisé le travail de construction et d’invention sur les marionnettes pour le spectacle et quels problèmes ont-elles posé éventuellement au niveau de la manipulation technique, en particulier dans le cas d’un spectacle d’opéra comme Medeia?
Les marionnettes que nous utilisons dans la pièce sont des marionnettes à tringle dont un seul bras est manipulable. Il m’a semblé que c’était la meilleure option technique, étant donné le rythme que nous voulions donner au texte et le fait que l’interprétation des chansons serait faite par les acteurs eux-mêmes. Pour la modulation du corps et le dessin des costumes des marionnettes, nous nous sommes inspirés de l’iconographie grecque afin d’épurer les formes et d’accentuer certains choix graphiques – par example, les panneaux sont dessinés par ordinateur et imprimés sur de la toile . La résine en polyester et le polyuréthane sont les matériaux constituifs des marionnettes.
Nous avons aussi choisi clairement d’exacerber la mécanique baroque dans toute la conecption de l’espace scéniquem, des objets et des accessoires, et même les solutions que nous avons trouvées pour fabriquer les marionnettes.
En fait, la perte des témoignages matériels (à l’exception de quelque partitions et textes publiés) dans le tremblement de terre de 1775, stimule l’invention des créateurs qui, tout en conservant des traits originaux, réécrivent l’histoire de ce théâtre. Par example, dans Os Encantos de Medeia, la musique baroque, celle de l’époque, a fini par être un point de départ ou de réflexion pour un retour à son essence, son esprit, dans un travail de récréation qui n’ignore pas les travaux érudits sur ce sujet. Ces recherches ont permis de ressuciter la véritable dimension de ce théâtre, conçu pour un public qui peut-être n’est pas si distant de celui de nos jours, attiré par les formes originales que le théâtre actuel conserve tout en les réinventant sans cesse. L’histoire du théâtre, celle de la marionnettes en particulier, ne peut que s’en réjouir…
in Puck, La Marionnette et les Autres Arts, L’opéra des marionnettes. Nº16, 2009, éditions de l’Institut International de la Marionnette, Éditions l’Entretemps