encenação
João Paulo Seara Cardoso
texto
Regina Guimarães
cenografia e marionetas
Elisa Queiroz
música
Roberto Neulichedl, Franco Quartieri
coreografia
Isabel Barros
figurinos
Luisa Costa Pinto
desenho de luz
António Real
direção de produção
Mário Moutinho
interpretação
Ana Queiroz, Carlos Magalhães, Igor Gandra, Maria João Castro, Rui Oliveira, João Paulo Seara Cardoso
operação de som e luz
Nélson Valente
design gráfico
Eduardo Miguel
técnico de construção
Abílio Silva
assistente
Agostinho da Silva
construção de cenografia
Construções Sodestroi SA
confeção de figurinos
Atelier Luisa & Pizarro
efeitos especiais
Jose Cunha
fotografia de cena
Henrique Delgado
painel eletrónico
J.G. Componentes Lda.
secretárias de produção
Fátima Moreira, Manuela Martinez, Susana Barbosa
agradecimentos
Sr. António Rua, João Lorga, Né Barros, Queiroga Santos, Eng., Silva Santos, Eng. Carlos Moreira, Eng. Vieira de Sousa
patrocínios
Salvador Caetano SA, Lojas Bombom, Edições Afrontamento
Almada: Surpresas boas e más
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Noutra área coloco IP5, de Regina Guimarães, pelo Teatro de Marionetas do Porto, um espetáculo excecional na sua subjetividade e em certas passagens, abstracionismo, no carácter simbólico que marca outras passagens, um espetáculo que marca talvez uma viragem no carácter experimental do grupo, tendo em conta a importância do texto, e do trabalho coreográfico (Isabel Barros), mas um trabalho com uma grande força crítica e uma enorme carga política, com alguns quadros admiráveis (só um exemplo: o quadro do circo) e de uma beleza, na cena final, de cortar a respiração.
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Carlos Porto
in “Jornal de Letras”, 31 de julho de 1996
Um festival de público
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Este magnífico trabalho voltou a demonstrar a rara habilidade de João Paulo Seara Cardoso e da sua equipa para a articulação de técnicas várias de manipulação com um imaginário plástico (Elisa Queiroz) de tão soberba criatividade que a ironia e o humor negro, dominante nos dois quadros «costumbristas», se converteram em autêntica poesia espacial, pela fabulosa integração das técnicas do marionetismo com o universo da dança contemporânea (Isabel Barros).
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Eugénia Vasques
in “Expresso – Cartaz”, 27 de julho de 1996
Os Modernos
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É ainda a atualidade que está em IP5, do Teatro de Marionetas do Porto. O título, do espetáculo e de um «rap» executado durante o espetáculo, remete-nos para a metáfora que percorre o espetáculo: as vias únicas como caminhos obrigatórios da normalização, como símbolos do mito do progresso que percorre o discurso, principalmente político, da contemporaneidade; a perda da individualidade; a modernização que recobre um radical provincianismo. Mas sem qualquer apologia do retrocesso, do passadismo ou do primário anti-moderno. Trata-se de um discurso que se situa na contemporaneidade pela temática, como o ilustram «sketches» como o diálogo Clinton/Ieltsin, o discurso da procuradora-geral da Moral ou o assalto ao Multibanco com seringa; que se situa na contemporaneidade pela opção estética, e pela fragmentação que organiza o espetáculo a partir do momento em que entramos na sala, integrando nele os avisos que preenchem o habitual tempo de espera (um pouco como Lucinda Childs, num recente trabalho, fez das entradas dos bailarinos em cena a primeira parte da coreografia). Justamente, o aspeto coreográfico é notável neste IP5: as marionetas já não precisam de história, basta-lhes, por vezes, um movimento organizado para criarem momentos pouco menos que mágicos, que culminam na maravilhosa cena final, em que o palco se abre para deixar ver, misteriosamente imóveis, as criaturas que durante mais de uma hora atuaram perante nós. Mais uma vez, o Teatro de Marionetas do Porto – João Paulo Seara Cardoso, na encenação, e todos os seus extraordinários colaboradores – nos vem recordar, se fosse ainda necessário, que é um caso exemplar de inteligência, de criatividade e de bom-gosto no panorama do teatro português.
João Carneiro
in “Expresso”, 13 de abril de 1996
Proxenetas, Folguedos e Estradas
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O Teatro de Marionetas do Porto, por seu turno, decidiu satirizar a mentalidade desenvolvimentista que marcou o Portugal dos últimos anos bem como o fascínio bacoco por tudo o que cheirasse a Europa. O seu novo espetáculo, intitulado “IP5” (numa alusão a uma das mais emblemáticas autoestradas do país) é, pois, um manifesto irónico e por vezes mesmo corrosivo contra alguns dos equívocos que o Poder procurou servir em bandeja de prata. Hipocrisias à água! – é este o espírito de mais uma produção humorística dirigida por João Paulo Seara Cardoso e que segue na esteira de outros espetáculos da companhia, como o celebrado “Vai no Batalha!”.
Com textos da escritora Regina Guimarães, o espetáculo desenrola-se em vários quadros, todos eles alusivos a aspetos deploráveis, desconcertantes, pícaros, burlescos ou simplesmente risíveis do mundo contemporâneo. É assim que Jacques Chirac não escapa à crítica aguçada, por causa dos testes nucleares no Pacífico, e o papa é acometido, certa noite, por um pesadelo sobre preservativos, chamando então os cardeais da Cúria que, do alto da sua infinita sabedoria, concluem que o melhor mesmo para prevenir a sida é o coito interrompido. “Discurso de Sua Excelência a Procuradora-Geral da Moral”, “Assalto com Seringas no Multibanco”, “Homenagem a Pinto da Costa”, “A Retoma do Tomate” e “Salvem o PP” (leia-se, “pediculus púbis” não confundir com PC, “pediculus capilaris”) são outras das sugestivas cenas que, durante uma hora e um quarto, prometem levar à gargalhada o público que se deslocar, a partir de amanhã, à pequena sala do Teatro de Belomonte. As marionetas que entrarão em cena são bonecos articulados, com cerca de 45 centímetros de altura, criados por Elisa Queiroz. A coreografia coube a Isabel Barros, os figurinos a Luísa Costa Pinto e a música é da autoria de Roberto Neulichedl e Franco Quartieri. As vozes são de Ana Queiroz, Carlos Magalhães, Igor Gandra, João Paulo Seara Cardoso, Maria João Castro e Rui Oliveira. Aviso à navegação: os responsáveis da companhia caracterizam este espetáculo como sendo “altamente perturbador da ordem pública e altamente desaconselhável a pessoas sem uma sólida formação moral”…
José Palmeira, Sérgio C. Andrade e Nuno Corvacho
in “Público”, 17 de fevereiro de 1996