Uma coisa às vezes não é aquilo que ela é.
Às vezes as coisas gostam de ser outras coisas, por exemplo de serem como as pessoas. Gostam de se mexer, de rir, de gostar e de não gostar.
As pessoas/coisas e as coisas/pessoas servem para contar histórias.
No mundo Frágil, há histórias pequenas e grandes. As coisas querem ser levadas para lugares que não conhecem, e fazem pequenas e grandes viagens.
No mundo Frágil, há pessoas/coisas que procuram coisas/pessoas. Há segredos que não se desvendam, ou que ficam para desvendar, há um universo aberto e fechado. Há coisas que saem de dentro de outras coisas.
No mundo Frágil as regras não são o que são, são regras de imaginação!
João Paulo Seara Cardoso e coletivo
marionetas e objetos cénicos
Rui Pedro Rodrigues
figurinos
Pedro Ribeiro
sonoplastia
Miguel Reis
coordenação de movimento
Isabel Barros
desenho de luz
Roy Peter
animação vídeo
Grifu
interpretação
Rui Queiroz de Matos, Sara Henriques e Sérgio Rolo
produção
Sofia Carvalho
operação técnica
Filipe Azevedo
assistente de produção
Shirley Resende
assistente de encenação
Isabel Barros
construção de cenografia, marionetas e objetos
Rui Pedro Rodrigues e Nuno Valdemar Guedes
confeção de figurinos
Carla Pereira
design gráfico
Pedro Ribeiro
gravação vídeo
Ângelo Peres/Widescreen
fotografia de cena
Susana Neves
coprodução Teatro de Marionetas do Porto / Artemrede
O mundo Frágil das coisas/pessoas
“Frágil” é a nova peça infantil do Teatro de Marionetas do Porto, em cena no auditório do Balleteatro.
Fomos assistir ao espetáculo que fala de coisas que gostavam de ser outras coisas…
Texto de Susana Branco
No escuro, a luz do pequeno farol ajuda-nos a seguir as voltas de uma bicicleta, cuja silhueta se faz acompanhar pelo toque intermitente da campainha. O ciclista transporta caixas que simultaneamente se vão acumulando e caindo, à medida que duas pessoas tentam reforçar a carga, tentando empilhar o impossível. No meio do frenesim, entre caixas, pelo ar e pelo chão, há uma que resiste à “boleia” e permanece em cima da bicicleta. E ganha vida!… “Uma coisa, às vezes não é aquilo que ela é!”, iremos ouvir mais à frente.
A música mais acelerada faz regressar o rebuliço anterior com toda a azáfama daquela ‘central de encomendas’ que despacha de dezenas e dezenas de caixas para todo o mundo. “Uma caixa sem remetente”, alguém estranha.
Inesperadamente, os papéis invertem-se e as coisas tornam-se humanas. “Às vezes as coisas gostam de ser outras coisas, por exemplo de serem como as pessoas. Gostam de se mexer, de rir, de gostar e de não gostar. As pessoas/coisas e as coisas/pessoas servem para contar histórias. No mundo Frágil, há histórias pequenas e grandes… as regras não são o que são, são regras de imaginação!”, ouvimos.
A nova peça do Teatro de Marionetas do Porto (TMP), com encenação e cenografia de João Paulo Seara Cardoso e coletivo, não tem propriamente uma história com início e fim. Essa cabe exatamente à imaginação de cada um e, assim, tu podes construir a tua própria história. “É uma peça com características especiais, mais filosófica, que não se socorre do texto ou da história tradicional. Esta estética é uma nova proposta do Teatro de Marionetas do Porto para as crianças”, sintetiza a diretora artística da companhia, Isabel Barros.
A peça não tem texto nem história mas conta uma história: a da alma de cada coisa e de como as pessoas são tão frágeis como as coisas. O cenário, feito na sua maioria de caixas de cartão e biombos, é igualmente frágil mas versátil, sofrendo transformações momentâneas, construídas e desconstruídas em palco ao longo de todo o espetáculo.
Rui Queiróz de Matos, Sara Henriques e Sérgio Rolo são os três atores que interpretam este teatro de marionetas que combina várias técnicas performativas, como a animação de vídeo 3D, as sombras, os desenhos de luz e a música, muita música, que dá ritmo às cenas.
Neste mundo Frágil “as coisas querem ser levadas para lugares que não conhecem e fazem pequenas e grandes viagens. No mundo Frágil há pessoas/coisas que procuram coisas/pessoas. Há segredos que não se desvendam, ou que ficam por desvendar, há um universo aberto e fechado. Há coisas que saem de dentro de outras coisas”. E há ainda uma pequena estória de amor entre duas coisas… Este pequeno episódio integra uma série de opções tomadas pelo coletivo da companhia que finalizou o trabalho de João Paulo Seara Cardoso, interrompido pelo falecimento do diretor artístico e fundador do TMP. “Decidimos levar até ao fim esta peça, mantendo a sua filosofia, com alguns arranjos finais. É uma peça especial porque também é uma homenagem ao João Paulo”, conclui Isabel Barros. Pelo que vimos este mundo Frágil é mesmo especial!
in Semanário Sol
21 janeiro, 2011
Frágil
Mundo Delicado
Nova produção do Teatro de Marionetas do Porto
Texto de Florbela Alves
É o primeiro espetáculo do Teatro de Marionetas do Porto com pouco texto. “ A peça parte de um universo visual, de materiais de papelão, elementos feitos em cartão. Um universo um bocado diferente dos anteriores porque não tem texto”, explica Isabel Barros, que assumiu o cargo de diretora artística da companhia após o falecimento de João Paulo Seara Cardoso. É uma peça com um cariz mais plástico, onde “pequenas histórias apelam à imaginação de personagens que surjem através de vários elementos”. E onde caixas se tornam protagonistas. Neste “mundo Frágil as coisas querem ser levadas para lugares que não conhecem, e fazem pequenas e grandes viagens.” No palco, estarão Sérgio Rolo, Sara Henriques e Rui Queiróz de Matos. Esta será, seguramente, uma peça com uma carga emotiva muito forte, uma vez que é a primeira após a morte do encenador e uma das últimas que este deixou por concluir. “Para nós é uma sensação boa, estar a pegar numa coisa que ele deixou, de investigação a nível de novas técnicas. Procurámos manter tudo tal e qual como se ele estivesse entre nós. Há esse sentimento coletivo, essa energia”, confessa Isabel Barros.
in Visão
13 de janeiro,2011
“Frágil” marca um antes e um depois no Teatro de Marionetas
A peça “Frágil” marca um antes e depois na história do Teatro de Marionetas do Porto, ao ser a primeira produção a ser apresentada depois da morte do mentor e criador da companhia, João Paulo Seara Cardoso.
Uma luz e uma buzina de uma bicicleta antiga anunciam no escuro a fragilidade das caixas de cartão, de onde nasce uma marioneta que não é mais do que uma réplica de um ser humano, com quem se confunde nas suas movimentações.
“No mundo frágil há histórias pequenas e grandes”, diz uma voz no escuro.
E em “Frágil” também há histórias pequenas – a nova peça do Teatro de Marionetas – e grandes – a vida do Teatro de Marionetas depois da morte de João Paulo Seara Cardoso.
“Esta peça é muito especial para a companhia pelas razões em que acabou por ser terminada. Tivemos que pegar na matéria toda que estava decidida pelo João Paulo e depois levar tudo até ao fim com um entusiasmo muito grande”, disse Isabel Barros, que teve a difícil tarefa de concluir o trabalho iniciado pelo seu mentor.
Em “Frágil”, há João Paulo Seara Cardoso em todo o lado: na articulação das marionetas com os atores, na coordenação entre elementos cénicos (a música, a imagem, a luz), na homenagem às marionetas.
“Até o próprio título escolhido pelo João Paulo remete para a fragilidade da vida. As coisas mais fortes também quebram e até esse título ganha todo um sentido especial para nós e talvez poético”, reconheceu Isabel Barros. Elas, vestidas de macacões laranja, munidas de cabeças de caixote, pés-braços de marionetas e fios quase invisíveis, expõem a fragilidade das coisas, que não querem ser o que são.
“Uma coisa não é aquilo que ela é”, surge como mensagem filosófica e poética que João Paulo Seara Cardoso quis deixar em “Frágil”, uma representação de 45 minutos, em que homens, marionetas, caixas, caixotes e jogos de sombra constroem um cenário único.
“Frágil” é, a espaços, uma linha de montagem, onde as marionetas – há de todas as formas, das mais originais (uma caixa colada ao corpo), às mais banais (o de fios, que o público conhece desde sempre) – mergulham dentro de um ecrã para se tornarem figuras de animação.
A primeira peça do Teatro de Marionetas sem João Paulo Seara Cardoso é também, assegurou Isabel Barros, a última que o antigo diretor artístico encenou e elaborou: “Ainda havia muitas mais… mas não se vai fazer. Perde o sentido. Havia um esboço, mas não um trabalho prático”.
E a última peço encenada por Seara Cardoso tem a particularidade de, contrariamente ao que lhe era habitual, não estar associada a um texto, ser construída de silêncios, palavras avulso, e uma pequena descrição daquilo que poderá ser uma história de amor antes do “Fim” aparecer estampado no ecrã. Mas o fim da peça, que estreia sábado, não marca o fim do grupo.
Isabel Barros assegura que o grupo do Teatro de Marionetas é coeso, dono de uma solidez invejável, e está desejoso de continuar o trabalho que João Paulo Seara Cardoso, o pai da nova marioneta, começou.
in Diário Açores
16 de janeiro, 2011