Já reparou que O Capuchinho Vermelho é uma história na qual não se fala senão de comer?
Este aspeto do conto pareceu interessar João Paulo Seara Cardoso que aqui nos apresenta um saboroso espetáculo de teatro de objectos (perecíveis).
Tudo começa, tranquilamente, sobre a toalha plástica de uma mesa de cozinha um pouco antes da hora do jantar, até ao momento em que… a hortaliça espalhada sobre a mesa se transforma em floresta.
A partir daí o universo oscila, os espaços vacilam, os tempos mudam e assistimos impotentes à metamorfose culinária do conto numa sequência de gestos e de imagens vertiginosas. O personagem, burocrata tímido, lívido, deixa-se levar, no espaço apertado da sua cozinha, por um saboroso delírio de invenções surrealistas.
É um espetáculo hilariante, efémero como uma boa refeição, mas do qual nos recordaremos por muito tempo.
João Paulo Seara Cardoso
dimensões mínimas
altura: 3m
largura: 4m
profundidade: 3m
necessário
fundo preto, ponto de suspensão para candeeiro no centro da cena, obscuridade total da sala
som e luz
equipamento da companhia
apoio
camarim individual
montagem
3h00
desmontagem
1h00
atores: 1
técnicos: 1
duração do espetáculo: 50m
classificação etária: maiores de 16
menções obrigatórias em todo o material promocional do espetáculo:
Estrutura financiada por SEC/DGArtes (com inserção de logótipos)
O CAPUCHINHO VERMELHO XXX
“Capuchinho Vermelho XXX”, pelo Teatro de Marionetas do Porto, é uma experiência de animação de objetos numa desconcertante adaptação à cena da história infantil. Rigorosamente para adultos com sólida formação moral. A não perder no Teatro Aveirense!
Já reparou que O Capuchinho Vermelho ê uma história na qual não se fala senão de comer? Este aspeto do conto pareceu interessar João Paulo Seara Cardoso que aqui nos apresenta um saboroso espetáculo de teatro de objetos perecíveis.
O espetáculo que inícia a rubrica “Teatro fora de Horas”, hoje, dia 26 de novembro, no Aveirense, começa, tranquilamente, sobre a toalha plástica de uma mesa de cozinha um pouco antes da hora de jantar, até ao momento em que… a hortaliça espalhada sobre a mesa se transforma em floresta. A partir daí o universo oscila, os espaços vacilam, os tempos mudam e assistimos impo¬tentes á metamorfose culinária do conto numa sequência de gestos e de imagens vertiginosas. O personagem, burocrata tímido, lívido, deixa-se tevar, no espaço apertado da sua cozinha, por um saboroso delírio de invenções surrealistas.
“O Capuchinho Vermelho XXX” é um espetáculo hilariante, efémero como uma boa refeição, mas do qual nos recordaremos por muito tempo.
Distante do Teatro Dom Roberto, este espetáculo reporta-se a uma variante menos conhecida da carreira de João Paulo Seara Cardoso – a animação de objetos. Disfarçado de ex-agente da PIDE com dificuldades económicas, ele conta a história do Capuchinho Vermelho dum modo paranoico servindo-se para as suas manipulações de produtos alimentares que traz numa bolsa de supermercado.
Em cima duma mesa e no meio do escuro da sala estão os personagens da história; um frango de supermercado, um chouriço e uma salsicha. O cenário é uma “floresta” composta por troços de couve e outras miudezas vegetais, Como não se pode contar tudo, alertamos apenas para o facto de este Capuchinho ser habitualmente repre¬sentado em festivais internacionais de marionetas, nas horas mais tardias do cartaz. É uma versão “hard-core”, com banda sonora.
Neste espetáculo é possível observar como com os elementos mais simples – porque o que conta é a capacidade criadora, a invenção, a sensibilidade, e um “trabalhado” ou nato jeito manual de João Paulo Seabra -, e até sern palavras, se podem traduzir coisas eternas e profundas como o amor, a vida, a morte, a condição humana.
Em quatro “números” independentes, diversificados, cheios de graça e de sugestões, entrelaçam-se exemplarmente o humor, a imaginação, a poesia. Em “O Capuchinho Vermelho XXX” é possível ver brotar de um simples boneco de trapos, ou até somente das próprias mãos nuas com uma comum batatinha enfiada no indicador, a mais humana expressividade, a graciosidade de um corpo, uma sugestão subtil, a ironia, a própria vida.
Este espetáculo do Teatro de Marionetas do Porto é urna iguaria do espetáculo de teatro de fantoches! É também um estímulo e um apelo à própria imaginação do espectador. A não perder no Teatro Aveirense.
in Diário de Aveiro, 26 de novembro de 2008
Capuchinho Vermelho no palco do Fazer a Festa
A história já todos nós conhecíamos desde pequeninos. Agora um “Capuchinho Vermelho” como o que anteontem à noite o Teatro de Marionetas do Porto levou até ao Fazer a Festa poucos, ou ninguém, conheciam.
O adjetivo insólita é o que melhor define a peça, encenada e interpretada por João Paulo Seara Cardoso. Um teatro de objetos, por definição, em que um frango, um ramalhete e um limão são fantoches. Dominada por uma componente cómica, a peça, com cerca de 15 minutos, manteve o público animado do princípio ao fim. O frango – o lobo da história – assou, tostou, foi morto à queima roupa com um tiro certeiro, foi autopsiado, cosido, agrafado, os órgãos atirados para a assistência, enfim… recomendado a adultos com uma sólida formação moral.
A peça já tinha sido apresentada, há alguns anos atrás. José Leitão do Teatro Art’Imagem, responsável pela organização do evento, gostou tanto que pediu para ser repetido especialmente para o Fazer a Festa. Os aplausos finais provaram a boa ideia que o organizador teve.
Mariana Barbosa
in “O Primeiro de Janeiro”, 24 de maio de 2000
Com il portoghese Cardoso il via al teatro d’oggetto
… Una versione gastronomico-sadica di “Le petit chaperon rouge”. Avete mai notato che Cappuccetto Rosso è una storia in cui si parla soprattutto di mangiare?
Tutto inizia tranquillamente sulla tela cerata di un tavolo di cicina un po’ prima dell’ora di cena, fino al momento in cui l’insalata sparsa sul tavolo diventa una foresta. Da quel punto in poi l’universo si capovolge e si assiste impotente alla “metamorfosi del pollo”.
È uno spettacolo esilarante, effimero come un buon pranzo, ma del quale non ci si dimenticherà per lungo tempo. Cardoso, marionnetista, scrittore, regista portoghese, dimostra una grande capacità di intrattenimento e una pungente vena comico-surreale.
in “L’Eco di Bergamo”, 1991
Si ride com João Paulo Cardoso
Cibi animati
… A calcare la scena sara questa volta il portughese João Paulo Cardoso, geniale ideatore e interprete di “Entre a vida e a morte”, spettacolo brillante che offre una surreale visione di pietanze e stoviglie in libero movimento sulla tela cerata di un tavolo da cucina. Focalizzando il proprio interesse sulle tematiche e sulle situazioni “magerecce” che ricorrono nella favola di Cappuccetto Rosso, Cardoso da vita, infatti, ad un esilarante spettacolo in cui il cibo si trasforma continuamente – l’insalata diventa una foresta e il pollo subisce uma buffa quanto paradossale metamorfosi – movimentando la scena com ironici e parodistici richiami al mondo delle fiabe. Spettacolo leggero, dunque, non privo però di soluzioni brillanti e originali legate all’obiettivo principale di stimolare l’intorpidita immaginazione del pubblico adulto.
Roberta Brunazzi
in “La Gazzetta di Ravenna”, 1991
Capuchinho “hard-core”
… João Paulo Seara Cardoso herdou, por aprendizagem, alguma da sabedoria e grande parte da tradição do último grande manipulador português do Dom Roberto, Mestre António Dias. Prestes a comemorar a milionésima representação do Teatro Dom Roberto, Seara Cardoso presenteia hoje e amanhã os frequentadores do Pinguim Café, na Rua de Belomonte, no Porto, com as últimas apresentações da sua versão do clássico Capuchinho Vermelho. Distante do Teatro Dom Roberto, o espetáculo de hoje reporta-se a uma variante menos conhecida da sua carreira – a animação de objetos. Em cima duma mesa e no meio do escuro da sala estarão os personagens da história. Por miúdos: um frango de supermercado, um chouriço e uma salsicha. O cenário é uma pouco higiénica “floresta” composta por troços de couve e outras miudezas vegetais. Como não se pode contar tudo, alertamos apenas para o facto de este Capuchinho ser habitualmente representado em festivais internacionais de marionetas, nas horas mais tardias do cartaz. É uma versão “hard-core”, com banda sonora.
Pedro Rosa Mendes
in “Público”, 10 de outubro de 1990
Et le poulet brûlait…
Epoustouflant spectacle des “Marionetas de Porto”
Au Théâtre abc, samedi soir, le Teatro de Marionetas do Porto présentait un Petit Chaperon Rouge à forte tonalité culinaire. Option pertinente dans cette histoire de loup dévoreur de petite fille et de mère-grand. Mais João Paulo Cardoso n’est pas resté a ce parallèle primaire. D’entrée de scène, on ne savait trop où allait nous emmener son lourd cabas de legumes et autres saucisse et poulet.
Le décor mis en place avec une certaine théâtralité comique, les salads sont devenus forêt, le persil bouquet de fleurs, le poulet identifié au loup, la carotte faisait office de chaperon rouge, etc. Le débitage pouvait commencer. Une drôle d’ivresse de gestes et d’images a saisi le cuisinier parti pour un dérapage étourdissant. Cette folie-bouffe s’est organisée en support de l’histoire du petit chaperon rouge avec des inventions hilariantes et un sens virant au surréalisme.
La cuisine de ce théâtre d’objects est devenu du grand art, inédit et surprenant dans l’imagerie dévelopée. Le dérapage attaque le comédien lui-même terminant son epopée gastronomique en caleçon et le regard hagard, dégustant le chaperon rescapé en rondelles alors que le loup-poulet s’embrasait dans sa casserole. Machiavélique et percutant.
Neuchâtel
in ” L’Impartial”, 1989
Chaperon sauce vulgaire
João Paulo Cardoso en double monologue, samedi et dimanche, pour deux spectacles fort différents. Un Chaperon rouge revu et corrigé sauce portugaise, tout d’abord, “Entre a vida e a morte”, conte culinaire hilariant d’un go~ut parfois discutible. Le décor: loup-poulet gras et blet, grand-mère-cervelas empaquetée de blanc, chaperon-vienerli tout de rouge servietté. Avec une bonne bouteille de gros rouge en guise de pot-de-beurre. Le tout servi avec oignons, salade et persil, sur des airs d’opéra crachotant. Bon. Les mimiques du comédien, les sons siffllés, les hic et les beurk, tout cela est trés fort. Le public se gausse, craque, pouffe. Et le poulet se démène, gobe cervelas et chaperon comme le veut l’histoire. Tandis que le chasseur, reconverti boucher-docteur, va bien évidemment mettre un point final heureux à cette grosse bouffe théâtrale. Premier sentiment: drôle, inédit, pervers un peu. Puis une question se pose: a-t-on le droit de jouer ainsi, vulgairement, avec de la nourriture? Question de respect. Le théâtre d’object, d’accord, c’est nouveau, c’est une revolution dans la marionnette. Mais celui de l’aliment? Et même si tout le monde a rit, le Teatro do Porto va peut-être un peu loin dans l’indécence.
Changement de décor, au Centre Portugais, dimanche soir, où le comédien remettait ça avec “Dom Roberto”. Une sorte de Guignol, très réussi, enlevé et pétillant. Le théâtre le plus rapide du monde: Roberto, marionnette traditionnelle, se démène avec les crocodiles pour délivrer son amoureuse de princesse et devient toréador pour combattre un taureau sympathique aux yeux jaunes. Les enfants hurlent de rire. Les adultes aussi. Et de nouveaux ces cris stridents, si bien rendus, onomatopées dans lesquelles on reconnaît ici ou là un mot en portugais. Les couleurs des robes virevoltent sur fond de velours rouge. Roberto est vainqueur. Les enfants sont contents. Les adultes aussi.
fk
in “L’Express”, 1989
Au royaume des objects
… Autre conte mijoté à la sauce “planches”: “Le Petit Chaperon Rouge”, vu culinairement par le portugais João Paulo Cardoso, une sorte de Chaplin à monocle entre Epicure et Machiavel. Le chaperon rouge est un wienerli, la mère-grand une saucisse, et le loup un poulet! On rit beaucoup.
Ce spectacle est un excellent exemple d’un aspect de la marionette contemporaine: le theatre d’objects. D’étonnantes assimilations voient le jour, par le principe littéraire de l’évocation.
Bernard Wuthrich
in “La Suisse”, 1989
Escándalo, polémica es la palabra que define lo que provocó “Entre a vida e a morte” del portugués João Paulo Cardoso. Era el cuento de Caperucita Roja contado, sarcástica, repelentemengte por medio de una salchicha, un salchichón y un pollo. Macabro, increíble, sorprendente. Como bien dijo el titiritero rebelde: “Quiero que la gente salga de mi teatro cambiada, de distinta manera a como entró, intrigada o asqueada. Busco, me obsesiono porque la marioneta es el teatro ideal para dejar sueltos nuestros fantasmas”…
Begoña del Teso
in “Diario de Tolosa”, 1989
Le petit chaperon rouge au Porto miam!
L’air d’un petit bureaucrate blafard, marchant à pas saccadés, il pose sur la toile cirée à fleurs de la table son sac. Un grand sac en plastique de l’hypermarché du coin. Et il déballe, tranquillement, tandis que le tourne-disque de quatre sous, là au bout de la table crachouille des rengaines. Un bouquet de cresson, des citrons, des carottes, une grosse saucisse, un poulet, entre autres. Sans oublier une bouteille de Côte du Rhône qu’il débouche en musique pour s’en servir une rasade. Alors, d’une voix de mourant, nasillarde, le petit bureaucrate barbu aux lunettes rondes commence à raconter, tandis qu’il éparpille le cresson qui sur la table, divient forêt.
Il raconte d’un ton totalement désintéressé une histoire que tout le monde connaît. Dans le même temps il prépare son poulet pour la cuisson. On le dirait tout au moins. Mais le poulet entre ses mains devient loup. Celui du petit chaperon rouge.
Et tout s’emballe, sur cette table, au rythme de cette musique de pick-up dont il change les microsillons sans arrêt, balançant ceux qui ont servi au fond de la salle. Le petit bureaucrate passe la vitesse supérieure, dans une sorte de vertige visuel, où on pense reconnaître Tex Avery ou Chaplin, où le poulet et la saucisse se livrent à une scène d’amour hard pendant que ce damné de pick up dégouline des “je t’aime” de Jane Birkin.
C’est le délire, le petit bureaucrate fou terminera debout sur sa chaise, en caleçon, gants rouges aux mains, en train de brailler l’hymne de l’équipe de foot de Porto?Le petit bureaucrate génial s’appelle João Paulo Cardoso…
Bernard Chopplet
in “L’Ardennais”, 1988
Amanhá falarei de política
…No espetáculo que vi em Redondela, um monstro da cena portuguesa, Joao Paulo Seara Cardoso, disfarçado de ex-agente da PIDE com dificuldades económicas contava a história do Capuchinho Vermelho dum modo paranoico servindo-se para as suas manipulaçons marionetísticas de productos alimentares que ele trazia numha bolsa de supermercado. A avoa era um chouriço do pais, Carapuchinha umha salchicha e o lobo um polo, que se chamava Francisco Frango. O conto ja se sabe como acaba, o polo é recheado com os embotidos. A arte de Joao Paulo para dar-lhe vida a aqueles objetos era fascinante, manipulava melhor que os mass-media. Era tam bonito que eu, desagradecido, pensei num paralelismo entre a política e as marionetas.
Quico Cadaval
in “Vieiros Galicia”
Fantoches no Realejo
Uma noite destas tire-se dos seus cuidados e suba/desça a Rua dos Mercadores até à salinha de café-teatro de “O Realejo”. Porque – à fé de quem sou lhe garanto – não é de perder o excecional espetáculo de teatro de fantoches que ali volta a oferecer-lhe, por algumas noites, João Paulo Cardoso, que já há tempos nos brindara com um divertido e imaginativo teatro de sombras de saborosas raízes populares.
Se não for, por preguiça, por preconceito, ou por indiferença, não me venha dizer depois que nunca há nada no Porto de novo, para ver, que jeito tenha…
Eu sei! Só de dizer-lhe que se trata de teatro de fantoches fá-lo torcer o nariz. Eu sei que há, aqui, uma grande e errada tendência para identificar “teatro de fantoches” com o popular espetáculo de rua dos robertos (que, infelizmente, vão rareando) e os “marretas”, popularizados pela televisão, ou coisa semelhante, de somenos, para entreter meninos… Se assim cuida, muito se engana! Verá.
Verá como, com os elementos mais simples – porque o que conta é a capacidade criadora, a invenção, a sensibilidade, e um “trabalhado” ou nato jeito manual – , e até sem palavras, se podem traduzir coisas eternas e profundas como o amor, a vida, a morte, a condição humana. Verá, em quatro “números” independentes, diversificados, cheios de graça e de sugestões, entrelaçarem-se exemplarmente o humor, a imaginação, a poesia. Verá brotar, de um simples boneco de trapos, ou até somente das próprias mãos nuas com uma comum batatinha enfiada no inidicador, a mais humana expressividade, a graciosidade de um corpo, uma sugestão subtil, a ironia, a própria vida… E verá/ouvirá contar uma história do Capuchinho Vermelho como jamais sonhou.
Não perca, pois, o espetáculo de João Paulo Cardoso (com o apoio musical de João Loio) e verá que se diverte, se surpreenderá, e dará por bem empregado o tempo que ali esteve. Jante nas calmas, pode mesmo – se gosta – ver o folhetim da TV, que a “função” só começa por volta das 10,30 horas da noite. Ou jante na Ribeira, que fica perto. O espetáculo custa-lhe o que consumir na acolhedora salinha nova de “O Realejo”. Se não gostar do espetáculo, autorizo-o a que me solte os cães…
Por mim, hei de ir lá outra vez, aplaudir a habilidade (rara entre nós), a inteligente simplicidade, e a espentosa criatividade, temperada de humor, de João Paulo. É uma iguaria o seu espetáculo de teatro de fantoches! E também um estímulo e um apelo à própria imaginação do espectador. Não há disto todos os dias.
Henrique Alves Costa
in “Jornal de Notícias”