O que pode esperar o público deste Macbeth?

Ajanela.com: O que pode esperar o público deste Macbeth?
30 de janeiro 2001

João Paulo Seara Cardoso: Há algo inocente e simples que sempre senti em relação nesta peça: é emocionante. É como um jogo de futebol não sabemos quem vai ganhar.

Desde o princípio em que os dados são lançados há uma tensão constante. Desde a primeira cena sente-se, através do prenúncio das feiticeiras, que algo de trágico vai acontecer, e o público é mantido num grande suspense até à última cena, até à vitória do Macbeth sobre o Macbeth. Algo que faz falta a teatro contemporâneo, demasiado preocupado com a forma e menos com a narrativa, a ambição aqui é a da narrativa exemplar.

Macbeth é um clássico, houve alterações na peça? Quais, e como foram feitas?

O critério usado foi a experiência da dramaturgia necessária para os textos funcionarem do ponto de vista teatral. Depois de uma leitura aprofundada do texto, das análises e críticas do texto e de Shakespeare, procuramos fazer uma síntese. Parece-me que chegamos a um contacto de Macbeth. Tudo o que era acessório foi suprimido, ficamos só com o fio fundamental da ação: O que impulsiona Macbeth, desde o princípio ao fim, na sua força indomável de matar e conquistar o poder.

Qual o motivo desta produção?

Há muito tempo que não trabalhávamos um grande clássico, o último foi António José da Silva a cerca de seis anos…

Mas fizeram o Hamlet-Machine de Muller…

Sim. Mas obedecia à vontade de fazer um texto contemporâneo, aliás foi realizado no ano em que o Heiner Muller morreu. Sempre tive o desejo de fazer um texto clássico, ou grego ou uma obra de Shakespeare, e Macbeth surge no meio de um ciclo. Há três anos que iniciamos uma procura de novas formas das marionetas se moverem, de organizar os espetáculos, uma pesquisa mais formal em que as palavras entram muito pouco. A certa altura sentimos a necessidade de nos confrontarmos com um texto, e que este passasse a ser o elemento dramaturgico fundamental do espetáculo, mas dentro de características muito nossas.

Do vasto repertório de Shakespeare, porque o Macbeth?

Embora já tenha representado O Sonho de uma Noite de Verão, uma das comédias de Shakespeare, gosto mais do ciclo das grandes tragédias, em que ele escreve Otelo, Rei Lear, Hamlet, Macbeth; são peças que vão ao fundo da condição humana, e do homem como motor da História.Macbeth tem umas referências fantásticas com o mundo contemporâneo, com as ditaduras, com os poderes únicos, com alcançar os fins sem ligar aos meios. Se formos ver houve, há, e haverá sempre, muitos Macbeths.

Depois deste Macbeth vai haver mais Shakespeare, outros textos clássicos?

Não tenho a distância necessária para poder formular uma avaliação deste trabalho. Neste momento estou bastante satisfeito. O nosso ano, em termos de produções, prevê a estreia em setembro de um espetáculo na linha dos anteriores, uma criação original a explorar as novas formas das marionetas, novas relações com os interpretes; é um, espetáculo inteiramente experimental. É uma coprodução teatro de S. João com a Porto 2001. E está assinalada também a reposição de oito espetáculos feitos durante estes dez anos.