Shall the moon
Wax and Wane
And a child shall be born
As strong as a giant
As brave as a lion
He shall be
And although he will not be
Bigger than a thumb
He shall be remembered
Until the end of time
João Paulo Seara Cardoso
marionettes, costumes e illustration
Júlio Vanzeler
music
Roberto Neulichedl
lighting design
Jorge Costa
production
Sofia Carvalho
cast
Edgard Fernandes, Sara Henriques, Sérgio Rolo, Shirley Resende (pianist)
lighting and sound design
Rui Pedro Rodrigues
marionettes painting
Emília Sousa
production assistant
Paula Anabela Silva
construction technicians
Vitor Silva – coordination
Filipe Garcia, Tânia Pinheiro – trainee
scenography construction
Américo Castanheira, Tudo Faço
wardrobe coordination
Cláudia Ribeiro
wardrobe assistant
Catarina Barros
master seamstress
Celeste Marinha
props
Dora Pereira
support
Balleteatro Auditório
Teatro: O triunfo dos mais pequenos
O palco é inclinado, mas não há “escorregadelas”. A História vai do princípio ao fim sem um momento de dispersão, numa atmosfera de conto infantil, daqueles pequenos e universais, que já nascem preparados para resistir ao tempo. Como o protagonista, de resto, uma personagem minúscula que leva de vencida um gigante. Qual David contra Golias, Polegarzinho simboliza as dificuldades de relacionamento dos mais novos com um mundo enorme e adverso, e é por isso que de imediato conquista a plateia, maioritariamente constituída por público infantil. Por isso e porque o Teatro de Marionetas do Porto, mais uma vez, constroí um objeto cénico que alia a economia narrativa a um universo visual encantatório.
Ao escrever o texto, que hoje mesmo, data da estreia, é editado em livro pela Campo das Letras, João Paulo Seara Cardoso, diretor arstístico da companhia e encenador do espetáculo, inspirou-se livremente nas vendas clássicas – Joseph Jacobs, Pernault, Grim e Andersen – e noutras que, entretanto, foram surgindo aculturizadas em diversos países, pela mão de escritores como Tom Thumb (Inglaterra), Tom Poucet (França) e João Polegar (Portugal). “Preocupei-me em focar aspetos da história do Polegarzinho que se adaptassem às nossas necessidades cénicas. Escrevi um texto de grande síntese, com o mínimo de palavras e floreados”, conta. Atualizar a narrativa original não foi um propósito nuclear de Seara Cardoso, para quem “uma das características destas histórias infantis do maravilhoso é serem símbolos intemporais das questões do desenvolvimento da criança”.
Imaginado exclusivamente para um público infantil, o espetáculo que hoje estreia no Balleteatro Auditório pode, em todo o caso, ser visto com agrado por adultos: “A fraqueza perante a imensidão do mundo é uma situação-arquétipo que encaixa tanto nuns como noutros. O polegarzinho conseguir vencer o gigante é uma catarse também para os adultos. E o mais interessante disto tudo está, justamente, em ver famílias a partilhar o prazer do teatro”.
De um lado do palco, há um ecrã onde vão sendo projetadas as ilustrações de Júlio Vanzeler (também autor das marionetas e dos figurinos), a uma cadência semelhante à do virar de página na leitura de um conto infantil; do outro, a pianista Shirley Resende toca a música composta por Roberto Neulichedl; ao centro, os atores (Edgard Fernandes, Marta Nunes e Sérgio Rolo) representam enquanto manipulam as marionetas.
No fim, para que uma eventual reação de medo das crianças face à figura do gigante não subsista depois da peça, pergunta-se-lhes o que lhe aconteceu. Elas respondem, seguras. E vão para casa radiantes.
Marcos Cruz
in “Diário de Notícias”, 25 de maio 2002
Na ponta do dedo
Uma estreia do Teatro de Marionetas do Porto é sempre uma boa notícia! E estreou ontem a peça Polegarzinho, destinada a um a público mais jovem mas sem limites de idade. E se o TMP não é, desde o seu início nos idos de 1988, um grupo especialmente vocacionado para o público infantojuvenil, não deixa desde sempre de ter uma reserva de encantamento e diversão para os mais pequeninos. Que o diga o seu mentor, reponsável pela maior parte da encenação e dramaturgia do TMP, João Paulo Seara Cardoso: “ Ao querer abordar um conto de fadas, que desde sempre me interessaram, voltei a reler os contos tradicionais e as dos clássicos que os reescreveram, desde o século XVI, o Perrault, os irmãos Grimm, o Hans Christian Andersen. E a escolha não foi imediata, porque eu acho todas as histórias fantásticas. Mas o Polegarzinho sempre me impressionou desde pequenino, e servia melhor os propósitos de encenação que queria fazer”.
E o que preside a este espetáculo para o público mais novo? Contra a tendência atual muito imbuída de preocupações pedagógicas (não de hoje mas desde que as preocupações pedagógicas suavizaram os horrores dos contos tradicionais inventando a literatura infantil – mais acentuado com o universo Disney), o encenador procurou o poder de maravilhar e apaziguar que têm os contos de fadas. A história do menino muito desejado que nasce do tamanho de um dedo polegar “tem situações muito variadas e adapta-se muito bem à marioneta, no fundo ele é já uma marioneta”. Logo desde a primeira cena ( “quando Polegarzinho cai dentro da tigela do bolo que a mãe estava a fazer, e ela pensa que a massa está enfeitiçada e deita-o fora pela janela e…”) se precipita a história do menino Polegar como se fosse uma lenga-lenga: “Fui buscar os episódios mais curiosos às diferentes versões da história, numa sucessão de peripécias até chegar ao castelo do Rei, onde começa a segunda parte, a mais importante e perigosa, quando tem de enfrentar o Gigante”, a ameaça terrífica dos contos de fadas.
Para a construção do espetáculo o encenador centrou-se na questão das escalas, tão bem representada com este herói minúsculo “que pode levar as crianças a identificarem-se: existem três escalas, a do Polegarzinho, a dos atores (desde sempre nos interessa a situação dos atores à vista que manipulam e contracenam com as marionetas) e a do Gigante. No fundo a primeira dificuldade de relacionamento das crianças com o mundo é essa questão das escalas”. E se, ao montar esta peça, partiu inicialmente das memórias afetivas da infância, como a função da arte é “apaziguar”, reconciliar com o mundo, o encenador espera que o público que assiste a esta peça saia da sala com uma espécie de reconforto, “mesmo se sentiu medo ou até terror lá dentro”. E o sentido da peça é: “O mundo é muito maior que eu, as coisas são grandes e perigosas, mas se eu, pequenino, usar tudo o que tenho de bom, a coragem, a inteligência, posso vencer as dificuldades”.
Para criar esta unidade no espetáculo o TMP conta com a sua equipa habitual: a qualidade gráfica das marionetas, figurinos e ilustrações de Júlio Vanzeler, “que desta vez contribuiu decisivamente para o desenrolar da peça, que se desenrola como um livro com ilustrações”, com quadros fixos – e deu origem ao livro da Campo das Letras editado ontem a partir deste trabalho. Ainda a música de Roberto Neulichedl interpretada ao vivo por Shirley Resende, o desenho de luz de Jorge Costa e a interpretação de Edgard Fernandes, Marta Nunes e Sérgio Rolo.
Agarre no pequeno mais perto de si e leve-o como desculpa para entrar no território dos contos de fadas…
in “Notícias Magazine”, 26 de maio de 2002